OPINIÃO – Após saída de Rogério Ceni, quanto vale o amor ao clube?

Por José Robson*

Quanto vale o amor ao clube do coração? Será que vale a pena jogar fora toda sua história como atleta como fez Rogério Ceni? Será que vale a pena arriscar sua trajetória em uma nova profissão? Vale a pena tudo isso em nome desse amor?

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Pois bem, essa é a pergunta que Rogério Ceni deveria se fazer, mas não vai. Este senhor a qual nos acostumamos a chamar de Mito durante anos, que conhece melhor do que ninguém este clube, e que o ama ao ponto de se arriscar tanto em nome desse amor, saiu do São Paulo pela porta dos fundos, escorraçado por aqueles que diziam o idolatrar, mas só o usavam como escudo.

O atleta se despediu do clube em dezembro de 2015, no dia 11, com o Morumbi lotado, e fazendo um último pedido: “No dia em que eu morrer, peço que joguem minhas cinzas aqui mesmo neste estádio para que eu me lembre de tudo que aconteceu aqui”, e retornou como treinador em duas ocasiões, e eu espero que no final das contas, nenhuma dessas passagens sejam lembradas por ele, afinal nas duas, ele teve a difícil missão de salvar o São Paulo dos problemas que são muito maiores que o campo.

Tirar cadeiras de dentro da piscina para poder enche-las e tratar atleta, cobrar fisioterapia e trabalho de recuperação muscular em 2 turnos, cobrar que atletas estejam dentro do peso, justificar decisões equivocadas da diretoria, e ainda por cima treinar um time de futebol, essas eram algumas das funções de Ceni no clube. Uma vez me referi a Rogério Ceni como técnico, diretor de futebol e presidente, e a cada dia q se passava no São Paulo, isso ficava mais nítido para mim, pois Rogério desempenhou funções além das quais ele era pago para fazer, e mesmo assim fazia, sem reclamar.

E lá se foram 18 meses de trabalho, nos 2 primeiros ele salvou o clube de um iminente rebaixamento, nos 12 seguintes agiu como um faz tudo dentro do clube,
cobrando o mínimo, e ainda levando o clube a duas finais no mesmo ano, coisa que já não acontecia desde 2005, época em que ele, Rogério Ceni, ainda era jogador… E infelizmente nos 4 últimos, apenas tristeza, frustração e decepção, por parte do técnico, e dos torcedores.

Rogério Ceni foi contestado como ídolo do São Paulo

Torcedores… O que falar sobre aqueles que não tem responsabilidade sobre essa fase do clube, mas que também não enxergam quem são os responsáveis? Anos de vergonha e humilhações deixou o torcedor São Paulino atordoado ao ponto de não enxergar mais Rogério Ceni como ídolo, e não me refiro ao técnico Ceni, mas sim ao jogador. A fase ruim do clube pré Ceni e durante Ceni como treinador fez com que alguns grupos de torcedores contestassem Rogério como ídolo, se esquecendo do tamanho de Ceni dentro da instituição, pior ainda, fazendo com que os torcedores esquecessem a própria história do clube, principalmente a parte que nos fez chegar até aqui.

Essa parte da história que começou a ser escrita no terceiro mandado de Juvenal Juvêncio, e ascensão de seu grupo político, grupo que comanda o São Paulo a no mínimo 15 anos, e desses 15, os últimos 11 foram apenas de fracassos, derrotas, eliminações vexatórias, contratações errôneas e demissões de Técnicos equivocadas. Tudo isso coordenado e orquestrado apenas por uma grupo político, mas que sempre arrumaram um jeito de responsabilizar os treinadores que aqui passaram.

No últimos anos tivemos diversos “culpados”, e Rogério Ceni foi apenas mais. Mais um que aqui passou e teve sua história manchada. Mais um culpado sem culpa. Mais um.

Vale a pena sacrificar sua história por amor ao clube? Para Ceni não valeu, mesmo que ele não admita. Saiu com menos apresso por parte da torcida, saiu vendo seu trabalho ser menosprezado, saiu vendo pessoas que não amam o clube administrando ele. Ceni infelizmente apenas saiu.